I Jardineiro I

As flores falam de coisas que nem em meus sonhos imaginei que iria escutar. Um dia, ouvi uma Cabana Americana contando para as rosas sobre outros lírios que se passaram em sua vida. Dizia friamente: “Eles nunca foram merecedores da minha performance. Afinal, sou esbelta demais para pequenas gramíneas”. As rosas riam e gesticulavam com suas pétalas um sim. Lembro-me de levantar um sorriso sarcástico. Questionei-me como uma flor tão bonita poderia emanar algo tão repulsivo? Assim como o seu cheiro.

Recordo-me de uma pequena Flor-de-maio, murcha pela falta de água, pois havia chorado litros por causa de um Antúrio. Ela dizia: “Eu o amei, mas nem percebi que era janeiro. Como pude ser tão tola em acreditar em sua inflorescência? Ele de fato não era tudo isso.” Pobre planta, percebeu os seus erros com as flores e decidiu ignorá-los. Pouco sabe que é um cacto. Embora não tenha espinhos, suas palavras e arrogâncias perfuram tanto quanto um. Despejei um pouco de água sobre sua cabeça e disse que tudo ficaria bem. Após uma breve conversa, já se aproximavam diversos Cravos. Parece que a solidão dela acabaria rápido, pelo menos até perceber que a quantidade é algo superficial, se comparado ao seu vazio.

Outrora, vagueando pelas úmidas terras, encontrei um beija-flor. Ele indagou a minha pessoa: “Você não cansa de ouvir os problemas dessas flores?”. Respondi: “Não, elas mostraram-me que a beleza é supérflua e que suas confianças em outrem têm mais espinhos que elas mesmas”. Fora uma conversa bem vaga, afinal o beija-flor já estava cansado de ouvir lamentações. Despedi-me dele e desejei boa sorte em seus dias vindouros. Engraçado, ele olhava-me com profunda pena.

Amo e odeio a responsabilidade imposta ao meu ser. Amo encontrar novas flores para apreciar e zelar. Mas, para ser sincero, odeio de fato conhecer esses lados das plantas. Se fosse apenas para sentir seu aroma e deleitar-se em suas cores vivas, a minha visão talvez seria mais esperançosa. Mas que seja, não irei julgá-las pelo que há tempos passou, apenas esforçar-me para que seus espinhos não se voltem contra mim. Já que não tenho anseio, por ora, de trocar as minhas luvas.