Ao ouvir a proposta de Eloise, Daneel ficou impressionado por ela identificar uma oportunidade tão boa de negócios.

Na verdade, assim como ela sentia, Daneel sabia que era a necessidade o que impulsionava qualquer negócio ou discussão. Portanto, esta poderia ser a maneira perfeita de espalhar a Rede de Angaria para o Reino Corvo Negro.

“Kellor, chame o nosso contato no Reino Corvo Negro imediatamente. Explique tudo e garanta que a força de um Guerreiro Corvo Negro será fortemente enfatizada. Marque uma reunião comigo, se achar necessário. Eloise, muito bem. Repetidas vezes, você provou que é a melhor para esse trabalho. Estou muito feliz por ter você trabalhando comigo para tornar meu sonho realidade.”

Quando Daneel disse essas palavras sinceras a Eloise, ele a viu corar e esconder o rosto com as mãos.

Por um momento, a expressão que viu nos olhos dela o lembrou da que vira nos olhos de Dália.

Embora a intensidade da adoração fosse menor, havia um aspecto diferente nela que ele não havia conseguido identificar.

Foi… paixão?

Sem muita experiência em assuntos desse tipo, Daneel realmente não sabia dizer se era esse o caso.

Independentemente disso, o que ele sentia por Eloise era verdadeira gratidão e um crescente sentimento de irmã.

Além disso, no momento não havia como ele considerar quaisquer pensamentos românticos, a menos que a ameaça iminente em Angaria fosse resolvida.

Por tudo isso ele desejou que seu palpite estivesse errado porque, se não estivesse, ele se sentiria bastante culpado por partir o coração de alguém que ele confiava e admirava por sua natureza trabalhadora e inteligente.

Enquanto estava absorto em seus pensamentos, ele percebeu que Kellor havia perguntado algo que ele não havia escutado.

Voltando a si, ele percebeu que a pergunta havia sido: “E se o Rei Corvo Negro perder? Toda a operação não sairá pela culatra?”

Pensando por um momento, Daneel respondeu: “As chances de isso acontecer são muito, muito pequenas. O Rei só prepararia tal partida em público se estivesse confiante na vitória. Eu o conheci, então sei que ele não é burro o suficiente para correr para esta luta sem tomar contramedidas. Além disso, ele é um verdadeiro Lutador Humano Exaltado. Mesmo que ele restrinja seu poder, sua experiência ainda lhe garantirá esta vitória.”

Embora essa fosse a resposta que deu a Kellor, ainda havia mais um motivo não dito que o fazia ter certeza da vitória do Rei Corvo Negro e que não expressou em voz alta.

Como o Rei não hesitou em tentar enganar Lanthanor, dando as sementes de Echer sem explicar sobre seu efeito na terra, ele definitivamente não hesitaria em usar meios desonestos para garantir sua vitória.

Mal sabia ele que o Rei Corvo Negro e o Velho estavam discutindo sobre esse mesmo ponto na Sala do Trono do Reino Corvo Negro.

…

“Não. Eu sou um Guerreiro e prefiro morrer a usar métodos dissimulados para derrotar um inimigo em uma luta direta. Se eu não fizer dessa forma, mesmo que eu entre no nível do meu desafiante, a vitória não terá nenhum significado. Eu vou derrotá-lo, não importa que truques ele tenha na manga.”

Ao ouvir essas palavras, ditas num tom que não permitia argumentos, o Velho, que acabara de sair da Câmara de Treinamento Energizado Natural e ouviu sobre a notícia da luta, suspirou e disse: “Eu sei. Mas, neste momento crucial, não podemos permitir que se arrisque. Apenas carregue a ferramenta que estou lhe dando e derrote-o sem usá-lo, se puder. Mas, se eu vir você perdendo, eu mesmo o ativarei.”

“NÃO! Velho, não sei se você já esteve em um campo de batalha. É o desespero de não haver outro caminho que leva a um guerreiro a dar tudo na luta! Se eu tiver essa contramedida, não posso lutar o quanto quiser!”

SLAM

Com a última palavra, o Rei Corvo Negro bateu com o punho no apoio de mão do trono, fazendo o som ecoar por toda a Sala do Trono.

Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto também ficou vermelho, tamanha era a indignação que sentia.

No entanto, ao ver a expressão sempre neutra do Velho se transformar em uma de absoluta seriedade, sua expressão lentamente começou a se transformar em uma de apreensão.

SLACK. SLACK. SLACK.

O som dos chinelos do Velho ecoava na Sala enquanto ele dava um passo após o outro na direção do Rei.

Era como se um laço apertasse o pescoço do Rei Corvo Negro, pois ele sentia como se o fluxo de ar estivesse sendo cortado de seus pulmões.

No momento, em que o Velho o alcançou, seu rosto, antes vermelho de indignação, agora tinha veias adicionais aparecendo, pois ele estava prestes a morrer sufocado.

“Achei que não precisava lembrá-lo de nosso… acordo. Faça o que eu digo ou você morre. Eu nem vou me incomodar em comandar você através do Juramento que fez. Não me faça avisá-lo novamente, ou você pode sentir falta de algo além do ar. Algo mais… pessoal.”

As últimas palavras foram ditas enquanto o Velho olhava para a região da virilha do Rei Corvo Negro.

Quando o Rei percebeu isso, ele não pôde deixar de agarrar impotente naquele lugar depois que a sensação de sufocamento desapareceu.

Vendo o medo renovado nos olhos do Rei, o Velho sorriu friamente antes de se virar e sair da Sala do Trono.

Ao fazê-lo, quase parecia que os olhos do enorme Corvo Negro que estava acima do Trono brilharam, como se o estivesse seguindo enquanto ele saía.

…

“Dália, chega! Você não falou ou comeu direito em dois dias! Eu sei que você está envergonhada pelo que aconteceu no Palácio, mas isso está indo longe demais!”

Quando Helena finalmente chegou ao limite de sua paciência e repreendeu Dália, que brincava com sua comida, sua filha apenas corou novamente e se curvou, escondendo a cabeça sob as mãos que ela havia colocado na mesa.

Após a reunião na Sala do Trono Lantanoriana, elas foram informadas de que logo seriam chamadas novamente para resolver o problema que haviam levado ao conhecimento de Daneel.

Alguns dias de atraso eram algo com que elas podiam lidar, por isso a família voltou para casa esperando que a convocação chegasse logo.

No entanto, desde aquele ponto, Dália se tornou alguém totalmente diferente de seu eu habitual.

Sua loquacidade se foi substituída pela ação presenciada na mesa.

Helena sabia muito bem o quanto a filha ansiava por ver o Rei.

Assim, ela finalmente descobriu que era porque ela ficou com a língua presa quando deveria explicar a situação.

Embora ela tivesse pensado, inicialmente, que Dália seria capaz de superar isso sozinha depois de um tempo, ela percebeu que só estava piorando.

Por isso ela decidiu, finalmente, confrontar a filha.

No entanto, vendo que ainda não havia resposta, Helena pensou um pouco antes de decidir dizer algo que, definitivamente, provocaria uma resposta.

“Você sabe que, agindo como está fazendo agora, apenas está diminuindo suas chances de falar com ele novamente.”

Essa declaração finalmente fez sua filha erguer os olhos com uma expressão confusa no rosto.

“Você sabe com quem o Rei fala regularmente?” Ela perguntou, fazendo Dália olhar para o alto enquanto tentava procurar uma resposta.

Depois de alguns segundos, ela balançou negativamente a cabeça.

“Com aqueles que trabalham com ele, boba! E sabe qual o critério para conseguir um emprego no Palácio?”

“O conselheiro chefe disse que… temos que estar no topo da nossa área escolhida.”

Na verdade, essa foi a primeira frase que Helena ouviu da filha desde a visita ao Palácio.

Sentindo-se feliz, ela disse: “Exatamente! Então, se você não comer e questionar as coisas, voltando a ser a Dália que os professores sempre elogiaram, como você chegará ao topo? Filha, apenas tire o que aconteceu da cabeça e trabalhe duro enquanto segue sendo você mesma para se tornar alguém em quem o Rei pode confiar. Você faria isso por mim?”

À menção da palavra ‘confiar’, parecia que um fogo havia nascido nos olhos da menina de 10 anos.

Assentindo com determinação no rosto, Dália levantou-se e caminhou até a cadeira em que sua mãe estava sentada antes de abraçá-la com força.

“Mãe, estou com fome. Podemos ir comprar doces? Depois disso, devemos ir à biblioteca!”

Rindo da expressão fofa da filha, Helena não pôde deixar de rir e acenar com a cabeça, fazendo Dália sair correndo para trocar de roupa.

Vendo-a ela balançou a cabeça e se deu tapinhas nas costas por ter conseguido mudar o comportamento da filha, então Helena também se levantou para trocar de roupa e pegar a bolsa.

Ela não tinha ideia, naquele momento, exatamente em que caminho ela colocou a filha e como isso acabaria mudando o destino de muitos no futuro.