Nos aposentos do Rei Corvo Negro, um homem estava em frente a um espelho de corpo inteiro, vestindo uma armadura que parecia ter passado por muitas batalhas.

Múltiplos buracos podiam ser vistos por todo o corpo, onde o material da armadura não teve escolha a não ser ceder aos golpes perfurantes que teve que suportar.

O sangue ainda podia ser visto nas bordas desses buracos, como se tivesse sido tão encharcado que alguns haviam se infiltrado em seu próprio ser.

De certa forma, representava a tenacidade do guerreiro que a trajava e continuava lutando por mais ferimentos que tivesse sofrido.

Era assim que o Rei Corvo Negro se via no espelho: machucado, espancado e ensanguentado; mas mantendo a cabeça erguida porque havia conquistado a vitória fazendo tudo o que podia.

Infelizmente, a imagem durou apenas alguns segundos antes de ser substituída pela realidade.

No lugar do guerreiro estava um homem que passava o dia inteiro enfurnado no Reino, cuidando de vários assuntos, enquanto temia o futuro.

Na verdade, ele não escondia de si que tinha medo.

Como um guerreiro que passou por muitas situações que quase o levaram a morte, ele sabia que o medo podia ser uma força que estimulava homens e mulheres a lutar dando o melhor de suas habilidades.

Muitas vezes foi esse medo que permitiu que alguém superasse seus limites para subir a outros níveis.

No entanto, antes de tudo o que tinha feito para chegar até aqui, ele temia ser cortado por uma lâmina, tornando todo o seu treinamento e sonhos discutíveis.

Agora, ele temia ser lembrado como um covarde.

Um covarde e um tolo que permitiu que o Reino que ele governava fosse manipulado para resultar em sua destruição.

Ele desejou que seus medos ainda pudessem ser evitados simplesmente mergulhando a lâmina em suas mãos no coração de seus inimigos.

Infelizmente, este não era mais o caso.

Olhando em volta mais uma vez e deixando de lado o sonho fervoroso de estar novamente ao campo de batalha sem quaisquer responsabilidades, em vez de ter que lidar com questões políticas e econômicas, o Rei Corvo Negro soltou um longo suspiro antes de se dirigir à Sala do Trono.

Seu Reino foi construído sobre a ideia de que o poder era absoluto. As pessoas reverenciavam o poder, e os militares eram, em muitos casos, os indivíduos mais populares e ricos de todo o Reino.

Agora, parecia que alguém veio questionar se a descendência de seu Deus lendário realmente dava um grande impulso ao poder, conforme afirmado.

Ao chegar à Sala do Trono e ver o maldito velho responsável por tudo ali, parado como sempre fez tal qual uma sombra que não iria embora, o Rei Corvo Negro sentiu a raiva que sempre reprimia subindo para afetá-lo.

Antes, ele era, na verdade, um indivíduo moderadamente frio que não costumava ficar com raiva de qualquer coisinha.

Agora, era aquela raiva reprimida que muitas vezes aparecia na presença daquele velho e dava a ilusão de que ele era um cabeça quente facilmente manipulável.

Seu dia chegaria, ele pensou pela milionésima vez, antes de se sentar no Trono com o enorme Corvo Negro acima dele.

Os dois homens que haviam estado do lado de fora antes para assistir à luta entre a mulher e o Corvo estavam na frente dele. Um se ajoelhou e o outro se curvou.

Depois que eles se levantaram, o Rei disse: “Hm. Meus soldados já teriam feito você em pedaços se não tivesse atraído a atenção de tantas pessoas. Eles só querem fazer isso… publicamente. Ainda assim, eu os parei porque não quero que Angaria pense que o Reino Corvo Negro mata indiscriminadamente aqueles que questionam tolamente a benção de nossa divindade. Tenho uma oferta para você, mas me pergunto se você é corajoso o suficiente para aceitá-la.”

Ao ouvir as palavras do Rei Corvo Negro, um suor frio se formou nas costas de Elanev.

Ele sabia exatamente o quão arriscado todo esse cenário era, mas estava apostando no renomado orgulho do Reino Corvo Negro para salvá-lo.

Afinal, com as experiências obtidas até agora em sua jornada, ele sabia que somente arriscando ele poderia crescer.

Embora ele tivesse um plano reserva utilizando algo que adquiriu por acaso antes de sair de Lanthanor, ele felizmente não precisou usá-lo porque parecia que não seria morto a sangue frio.

Recuperando a mesma arrogância que tinha quando comentou sobre a mulher de antes, ele disse: “A menos que seja algo injusto, estou pronto a aceitar qualquer oferta que atenda aos meus desejos. Viajei muito para isso e não há como voltar de mãos vazias sem que muitos outro saiba, disso, caso eu concorde com o Senhor.”

A percepção era uma coisa poderosa. Se realmente se tornasse conhecido em todo o continente que alguém que veio ao Reino dos Corvos Negros, procurando descobrir a especialidade dos corvos negros, foi enviado de volta sem resposta ou morto, isso faria todos pensarem que havia um fundo de verdade nas afirmações de tal pessoa.

Como um povo orgulhoso, isso, definitivamente, era algo que o Reino seria incapaz de suportar.

Portanto, a confiança de Elanev era bem justificada.

No entanto, o que o Rei Corvo Negro disse a seguir o surpreendeu, fazendo-o quase deixar cair a fachada de um forte especialista em busca de um rival.

“Vou lutar pessoalmente com você em público depois de limitar minha força usando ferramentas mágicas especiais. Também usarei um Corvo Negro de nível semelhante como companheiro. O que você diz, Desafiante? O Reino Corvo Negro nunca desiste de uma luta. Já é hora do continente ser lembrado desse fato.”

…

[Atualização do status do Anfitrião. Por favor, espere.

Status do Anfitrião:

Nível de Guerreiro: Humano-7 (22%)

Nível de Mago: Humano-7 (22%)

Potencial do corpo do Anfitrião: A+

Nível de compreensão do Anfitrião: ?????

Condição do Anfitrião: Normal]

“Sistema… por que há pontos de interrogação ao lado do nível de compreensão? Reproduza todas as notificações recentes.”

[O Sistema não contém dados suficientes para avaliar o nível do Anfitrião. Reproduzindo:

Confinamento concluído. O Sistema parabeniza o Anfitrião por ultrapassar seu limite. Raiz Mágica passou para o próximo nível. Dados insuficientes, o Sistema é incapaz de avaliar e classificar o nível da Raiz Mágica do Anfitrião.

Fim da reprodução.]

Ao ouvir a notificação, as mãos de Daneel, que estavam prestes a mergulhar na gosma vermelha para continuar o treinamento, caíram para o lado.

Sua compreensão tinha… rompido?

Mas como?

E por que ele não estava sentindo nada diferente?

Depois de pensar por um momento, Daneel entendeu por que isso acontecia.

A compreensão decidia a velocidade e a facilidade com que se poderia compreender e se conectar com as partículas elementares para usá-las à vontade.

Daneel simplesmente ainda não havia lançado nenhum feitiço desde que houve esse ‘avanço’ em sua Raiz Mágica, assim não houve nenhuma chance de sentir se houve alguma mudança.

Levantando-se, Daneel ergueu a mão no ar para tentar conjurar o mesmo ataque que havia usado para derrotar o Comandante Axeloriano: “Cutelo de Madeira”.

Afinal, Daneel era alguém que tinha o talento de um mago lendário. Portanto, embora ele tenha visto o ataque de Kellor apenas por um pequeno período para permitir que o Sistema o analisasse, ele ainda pode tentar formar o feitiço por conta própria, sem ajuda do Sistema.

O longo cabo de madeira que era o corpo do machado foi a primeira coisa que começou a aparecer.

Foi quando Daneel começou a perceber a diferença. Normalmente, ele já estaria sentindo a resistência das partículas elementares de madeira no ar, pois não entendia seus padrões e comportamentos tão bem quanto Kellor. Assim, teria que recorrer à força bruta, o que acabaria por cansá-lo imensamente.

Agora, mesmo enquanto o cabo estava sendo lentamente conjurado, Daneel compreendia rapidamente a própria essência da madeira, que Kellor levara anos para compreender.

Embora houvesse muitos aspectos da madeira, ele entendeu que o que precisava agora era robustez.

Camadas e camadas de partículas, dispostas em padrões intricados que adicionaram uma resiliência comparável ao metal, quando a madeira era grossa o suficiente.

No entanto, quando ele estava prestes a mergulhar mais fundo nos mistérios que achava fascinantes, as partículas que ele vinha guiando até agora começaram a ficar fora de controle.

Logo, ele percebeu que teria que usar a força bruta se quisesse continuar.

Interrompendo a conjuração, Daneel sentou-se no chão com uma expressão de espanto no rosto.

Na verdade, ele havia chegado até esse ponto tão rápido!

Só havia uma explicação: sua compreensão havia realmente aumentado.

Mas por quê?

Enquanto se perguntava isso, Daneel pensou no momento antes de desmaiar ao lado de Faxul na Câmara.

Até então, ele vinha resistindo à pressão da entidade que queria destruí-lo e consumi-lo.

No entanto, quando a pressão foi removida devido ao Sistema que o confinava, ele se sentiu… liberado, como se fosse uma flor que só cresceria mais se fosse pisada.

Esse definitivamente deve ter sido o momento de ruptura.

Enquanto Daneel pensava nessas linhas, outra pergunta surgiu para ele.

“Sistema, há alguma mudança na minha velocidade de treinamento e tempo para me tornar um Guerreiro por causa desse avanço?”