Como um dos maiores agiotas de Lanthanor, Abrams estava bebendo o vinho mais caro do país quando foi notificado da mensagem do Palácio, que convidava todas as pessoas proeminentes em sua linha de trabalho para uma reunião.

A única razão pela qual ele conseguiu manter seu negócio prosperando por tanto tempo foi que ele sempre gastou o quanto precisava para se manter atualizado sobre as decisões do governo.

Por exemplo, quando os importadores de vinho e donos de bares foram chamados ao Palácio, ele adivinhou que o Reino imporia, principalmente, sanções, pois era do conhecimento geral que Lanthanor precisava de dinheiro.

Por isso, ele se apressou em cobrar todos os empréstimos concedidos aos donos de bares antes mesmo da reunião acontecer.

Seu raciocínio era simples: se as sanções fossem impostas, os lucros do negócio cairiam, o que significava que seria mais difícil para quem tomou os empréstimos pagarem os juros.

Normalmente, nos casos de outras empresas, Abrams ficaria feliz com isso, pois significaria que ele poderia assumir os ativos dados como garantia do empréstimo.

No entanto, o problema era que aqui o próprio negócio era a garantia.

Portanto, se o negócio do vinho caísse, o valor dos bens penhorados também poderia diminuir, resultando em uma perda total para ele.

Em sua vida, “perda” era uma coisa que ele estava determinado a evitar, não importa o que tivesse que fazer.

Foi essa mentalidade que permitiu que ele passasse do status de morador de favela para o de um dos indivíduos mais ricos de Lanthanor, com ativos estimados em meio milhão de Lans de ouro (50 milhões de dólares, na moeda da Terra).

Foi também essa mentalidade que o fez se ramificar para quase todos os reinos de Angaria, onde era permitido que forasteiros fizessem negócios, pois era senso comum não colocar todos os ovos em uma cesta.

Depois de ouvir a mensagem, Abrams primeiro contatou todos os amigos que estavam no mesmo ramo.

Ao confirmar que eles também haviam recebido a mesma mensagem, ele iniciou a investigação sobre o que aconteceu no Palácio enquanto esperava para, finalmente, encontrar o Rei, cujos esquemas idealistas levaram a uma dívida pela primeira vez em décadas.

‘Ele não vai nos pedir dinheiro, vai?’

Enquanto esse pensamento flutuava em sua mente, ele não pôde deixar de rir pensando no absurdo inerente a um Rei pedindo dinheiro a seus súditos.

…

Na manhã seguinte, 26 homens e mulheres entraram pelos portões do Palácio de Lanthanor em carruagens, cada uma mais luxuosa do que a outra.

Todos eles eram movidos por Éter, mas as caixas pretas que, geralmente, eram os mecanismos que conduziam esses carrinhos, foram substituídas por esculturas artísticas de bestas míticas, como dragões e fênix.

Quanto às próprias carruagens, embora cada uma parecesse pequena, era bastante claro que haviam sido encantadas com os encantamentos mais caros que existiam: encantamentos espaciais.

Como a carruagem da qual Daneel havia pulado onde teve o primeiro encontro fatídico com a Igreja da Retidão, todas essas carruagens tinham espaços internos maiores do tamanho da carruagem que era visível do lado de fora.

A principal coisa que denunciava esse fato era que as rodas das carruagens deixavam sulcos profundos no chão, quando isso não seria possível se fossem realmente do tamanho e peso que pareciam ter.

Encantamentos espaciais eram um dos mais complicados e, portanto, os mais caros em Angaria. Quanto menor um objeto, mais difícil era lançar encantamentos espaciais sobre ele, resultando no fato de que era impossível fazer pequenas bolsas capazes de conter muitas coisas, pelo menos para todas as forças da Angaria Central.

Mesmo os lançados em carruagens precisavam de encantadores de primeira linha, com o custo para expandir uma carruagem de 10 m2 de área para 20 m2 sendo mais de 100.000 Lans de ouro.

Portanto, esses encantamentos foram usados apenas em alguns casos, exceto nessa situação em que o único motivo era mostrar opulência.

Ao entrarem no Palácio conversando entre si, as 26 pessoas sentaram-se numa grande sala de espera aguardando a chegada do Rei.

Quase todos eles tinham negócios em vários Reinos, tornando simples para eles mudar de base, se necessário.

Em resumo, eles eram como os empresários da Terra, que os governos tentavam agradar porque sua simples presença resultaria em um crescimento da economia de seu país.

Depois de alguns minutos, em que alguns já começaram a reclamar que estavam sendo obrigados a esperar, as portas se abriram para revelar uma comitiva de soldados.

Com o Rei entrando na sala, as 26 pessoas apenas se levantaram e se curvaram, dobrando as costas.

De certa forma, a saudação mostrava quanto respeito uma pessoa estava disposta a conceder ao Rei. Uma reverência sobre um joelho era o padrão, o que significava que a pessoa que fazia a reverência era um súdito leal.

Quanto a esta reverência, significava apenas que a pessoa respeitava a posição do homem a quem estava cumprimentando, mas não estava pronta para receber ordens.

Depois que o Rei se sentou na cadeira de frente para todos eles, ele primeiro olhou em volta para todos os rostos presentes.

A riqueza combinada das pessoas nesta sala das pessoas nesta sala chegava a impressionantes 10 milhões de Lans de ouro.

Respirando fundo, ele disse: “Antes de tudo, Lanthanor agradece sua presença nesta reunião, que mudará o futuro de ambos. Antes de começar a falar sobre por que os chamei aqui, posso perguntar qual é o maior problema que todos vocês estão enfrentando?”

Um homem de negócios, especialmente um agiota, que era a ocupação de todos na sala, sabia quando alguém queria algo deles.

Afinal, eles construíram seus negócios em acordos nos quais, muitas vezes, estiveram do mesmo lado.

Portanto, quando ouviram o Rei falar com tanta cordialidade, sentiram imediatamente que ele iria pedir algo a eles.

Percebendo isso, o primeiro sentimento que realmente passou por eles foi alívio.

Abrams, em particular, ficou muito feliz com o fato de que a pior situação que ele imaginou, de sanções impostas a empréstimos, não aconteceria. Isso porque, se fosse esse o caso, ele estaria entre os mais afetados, já que atualmente tinha mais negócios em Lanthanor.

Tomando um gole do vinho que lhe serviram, fez uma leve careta para a qualidade da bebida antes de responder: “Gente que corre sem pagar a dívida.”

Na verdade, esse era o maior problema em sua linha de trabalho. Mesmo que a garantia fosse obrigatória ao tomar um empréstimo, ainda havia prejuízos quando um devedor fugia, especialmente nos casos em que o valor do bem usado como garantia caía por algum motivo, como no caso dos importadores de vinho e dos bares que possuíam.

Ao ouvir a resposta, o Rei sorriu antes de dizer algo que assustou todos na sala.

“Concordo. Ah, a propósito, você acha que um Reino é algo que pode fugir sem pagar sua dívida?”

Após um breve silêncio, foi Abrams quem falou novamente.

Essa era uma noção da qual eles realmente zombaram, então vê-la se tornar realidade foi bastante chocante.

Afinal, um Reino era algo que tinha o poder de simplesmente aumentar os impostos para obter tanto dinheiro quanto quisesse.

Além disso, havia inúmeras maneiras pelas quais o Rei poderia obter ouro suficiente para reabastecer o tesouro.

Em caso afirmativo, por que ele estava pensando em tomar empréstimos com juros acrescidos?

“Meu Senhor, eu não entendo. Peço desculpas se pareço rude, mas preciso que essas perguntas sejam respondidas. Você deseja tomar empréstimos conosco? Por que não apenas aumentar os impostos? E o que há para dizer que você apenas não usará a força militar para nos fazer ‘esquecer’ que lhe emprestamos dinheiro em primeiro lugar?”

A última pergunta foi a segunda razão pela qual os agiotas se sentiram perturbados. Reinos confiscando seu dinheiro não era lago novo; na verdade, essa era a razão pela qual eles distribuíam seus bens com a maior segurança possível.

“É porque quero construir algo que seja confiável em todo o continente. Um lugar onde qualquer pessoa pode dar seu dinheiro sem se preocupar que ele seja perdido. Para realizar esse sonho, preciso de um histórico impecável. E para dar início a esse meu sonho, estou preparado a jurar a você que seus piores medos não se tornarão realidade.”

As palavras de Daneel chocaram todos os agiotas presentes na sala.

Um Rei descendo de seu pedestal… para fazer juramentos pessoalmente?

Isso era algo simplesmente inédito!

Afinal, os Reis eram indivíduos que, geralmente, consideravam ser abaixo de sua dignidade real até mesmo interagir com civis como eles.

E aqui, neste momento, eles realmente estavam ouvindo que estariam recebendo um juramento do Rei?

…

Algumas horas depois, as 26 pessoas saíram da sala com expressões indecifráveis.

Seu patrimônio líquido de 10 milhões de Lans de ouro foi reduzido pela metade, mas eles sentiam esperança para o futuro.

Esperança de que o nome “Banco de Angaria” ecoasse um dia em todo o continente e que eles pudessem dizer com orgulho que forma seus primeiros clientes.