[Extração de Energia Concluída.]

Uma hora depois, a poça de sangue na frente do Rei de Lanthanor havia se transformado em uma substância vermelha semissólida.

Depois de estudar a substância por um tempo, Daneel, um pouco hesitante, colocou as mãos na tigela.

Parecia úmido e pegajoso, lembrando-o da geleca apreciada pelas crianças da Terra.

No entanto, quando ele ordenou ao Sistema implantasse a Técnica de Desenvolvimento, ele sentiu uma sensação familiar percorrer seu corpo e que o fez sorrir largamente.

Na verdade, era Energia.

Essa Energia parecia muito semelhante tanto em efeito quanto em sensação àquela que ele absorveu de Gemas Ker, fazendo-o se perguntar sobre a origem das gemas vermelhas que eram encontradas tão raramente no Continente de Angaria.

Balançando a cabeça para se livrar desses pensamentos dispersos, Daneel convocou seu clone e ordenou que ele absorvesse a energia ao seu lado, lembrando-se do momento em que teve o ‘estalo’ que resultou nessa situação maravilhosa.

No momento em que Daneel ouviu o resumo da técnica de “Extração de Energia Sanguínea” na sede da Seita Folha Fulminante, ele se lembrou do tempo gasto para modificar os mosquitos e criar os espécimes que fizeram a Seita fugir de casa.

Para usar a Ferramenta de Modificação Biológica, Daneel teve que coletar vários espécimes de mosquito para modificá-los repetidamente até que o feitiço funcionasse.

De acordo com o Sistema, tudo o que a Ferramenta fazia era usar partículas elementares para influenciar e alterar a composição biológica de uma espécie, resultando em uma mutação específica.

De fato, as mutações eram bastantes comuns em todas as espécies, sendo que a maioria delas eram mínimas, como casos em que um determinado grupo de mosquitos pode desenvolver mandíbulas mais afiadas para poder perfurar as peles dos animais com mais facilidade no caso de viverem em um local que não tinha um suprimento abundante de material energético.

Aqui, o truque foi induzir a mutação desejada, o que aparentemente foi uma questão de sorte.

Quando o Sistema começou a expor as fórmulas sobre o mesmo, ele o interrompeu porque, a essa altura, sua cabeça já estava girando com tanta informação.

A essência da questão era que o Sistema precisava que ele conduzisse cerca de 1.000 tentativas, das quais uma resultaria na modificação bem-sucedida na espécie que ele queria.

Assim, Daneel teve que se esgotar, dormindo menos e, às vezes, pulando refeições, para executar repetidos testes e recarregar sua raiz mágica usando blocos de éter para terminar a tarefa o mais rápido possível.

Felizmente, ambas as modificações que ele queria tiveram sucesso antes de 500 tentativas.

Daneel poderia fazer duas modificações. Assim, as duas cepas que ele fez foram:

1ª Cepa, com 2 mutações: Primeira Modificação: mosquitos que tinham maior capacidade de romper barreiras, dando-lhes um frenesi, sede de sangue e força que não estavam presentes nos mosquitos normais. O truque aqui foi aumentar o desejo deles por Energia, o que resultou neles se reunindo em nuvens para realizar ataques em conjuntos, ao mesmo tempo, em que colocavam mais energia em cada ataque. Essa lógica simples foi pensada por Daneel, que lembrou a famosa frase da Terra “A vida sempre encontra um caminho”. Assim, modificando apenas um fator, ele conseguiu obter os resultados que precisava. Segunda Modificação: um “Interruptor Assassino” que lhe permitia acabar com a vida de todos e quaisquer mosquitos na área que o Sistema podia detectar usando a Ferramenta Anti-Vigilancia-2 (uma área de cerca de 60 metros em qualquer direção ao seu redor).

2ª Cepa, também com duas mutações: Primeira Modificação: tamanho aumentado (com outras características permanecendo as mesmas). Segunda Modificação: “Interruptor Assassino”.

Claro, a Natureza sempre teve um equilíbrio que tinha que ser respeitado, não importando quais modificações fossem feitas. Na primeira cepa, o Sistema o havia avisado que os mosquitos continuariam se reproduzindo sem fim até que todas as outras espécies em uma área fossem eliminadas, principalmente porque o aumento do desejo por Energia resultaria em uma atividade frenética, que levaria aos mosquitos, instintivamente, colocando mais ovos para aumentar seus números.

O efeito colateral da segunda cepa seria a diminuição da vida útil dos mosquitos, devido ao seu tamanho aumentado. Afinal, embora o Sistema lhe permitisse aumentar o tamanho, não houve mudança na composição geral do corpo do mosquito que lhe permitisse levar uma existência normal mesmo com o aumento de seu tamanho.

Por exemplo, seu uma formiga da Terra fosse aumentada para o tamanho de um elefante, ela simplesmente morreria devido a vários motivos, sendo o principal deles que sua constituição física não seria capaz de lidar com seu tamanho maior. Na verdade, Daneel lembrou-se de que muitas pesquisas e especulações foram feitas sobre esse tópico, e que ele havia estudado em seu tempo livre na Terra porque parecia muito interessante.

No entanto, embora esse efeito colateral existisse, Daneel ficou feliz com o resultado, pois havia feito a segunda cepa apenas para realizar um ataque devastador, como no caso em que massacrou os membros da Seita.

Voltando à extração de energia do sangue, a razão pela qual ele se lembrou de todo esse episódio foi por causa da declaração do Sistema, que dizia que os mosquitos tinham uma superabundância de energia em seus corpos antes de botarem ovos.

Se este fosse o caso, então, a explicação no tomo, que falava sobre a natureza da Energia dentro dos corpos humanos se espalhar e que resultava em uma baixa eficiência da técnica, era discutível.

Assim, o sangue da primeira cepa de mosquitos era perfeito para aplicar essa técnica. Depois de perceber isso, Daneel ordenou imediatamente que o Sistema desenvolvesse uma técnica modificada de “Extração de Energia Sanguínea” com as modificações sendo que ela poderia ser aplicada em mosquitos enquanto também era segura para ser absorvida por ele.

O resultado estava à sua frente.

De cerca de 5.000 mosquitos, ele conseguiu extrair Energia suficiente para durar uma semana.

Em outras palavras, sua necessidade premente de procurar desesperadamente por Gemas Ker para continuar seu treinamento foi resolvida.

Se não fosse pela única desvantagem que era que o Sistema era necessário para absorver essa Energia com segurança, sem enlouquecer, Daneel não teria hesitado em ir e recolher tantos cadáveres de mosquitos quanto pudesse no Vale, garantindo, ao mesmo tempo, que permaneceria habitável para a Seita.

Independentemente disso, e feliz por seu problema ter sido resolvido, Daneel continuou treinando enquanto deixava sua mente vagar.

Depois de, mais ou menos, uma hora, ele entrou em um estado semi-meditativo, no qual ele costumava entrar durante as longas sessões de absorção de energia.

Normalmente, sua mente estava tranquila durante esse estado.

No entanto, agora, ele se pegava relembrando um certo momento do dia repetidas vezes, como se seu eu interior estivesse tentando avisá-lo sobre algo.

Sobressaltado, Daneel acordou enquanto uma sensação de urgência aparecia em seu rosto.

O que lhe permitiu recordar esse momento crucial foi definitivamente seu instinto, que ainda não havia falhado com ele por ter sido aprimorado por anos através de seu trabalho árduo e experiências.

Sem dúvida, aquela expressão de triunfo nos olhos do Príncipe mais Velho não era sua imaginação.

“Sistema, foram detectadas anomalias desde que voltei ao Palácio?”

[Negativo.]

Ao ouvir a resposta do Sistema, Daneel estava prestes a se acalmar quando a lembrança de uma criança lutando a cada dia confiando apenas em si e em seus instintos passou por sua mente.

Aquele garoto era ele, que não tinha nenhum Sistema para ajudá-lo durante os exaustivos 3 meses que passou no Centro de Treinamento dos Punhos da Justiça com Faxul, quando ele transmigrou pela primeira vez para este mundo.

Nesse momento, ele percebeu que estava confiando demais no Sistema recentemente, apesar de ter dito a si antes para não o fazer.

Afinal, o Sistema era tão hábil que ele não conseguiu evitar cair no poço da dependência, sem nem mesmo perceber.

Com essa percepção, veio a memória dos múltiplos momentos na batalha com o Comandante Axeloriano, onde ele teve que ter um atraso em suas ações para ordenar ao Sistema que lançasse feitiços todas às vezes.

É verdade que o Sistema seria capaz de fazer isso mais rápido, mas o que ele faria se estivesse em uma situação em que não tivesse tempo para dar uma ordem?

A morte seria o único resultado.

Levantando-se imediatamente e batendo com força na cabeça, Daneel amaldiçoou-se novamente por não ter pensado assim antes.

Afinal, o Sistema era apenas uma ferramenta para ajudá-lo em sua jornada.

Só porque dizia que não havia um problema, não havia razão para Daneel ignorar seus instintos.

Gravando esse fato firmemente em seu próprio ser, Daneel decidiu renovar seus esforços para diminuir sua dependência antes de enviar uma mensagem a Kellor através da Pedra de Juramento.

“Traga o corpo do Príncipe mais Velho para o meu quarto. Além disso, reúna todos aqueles que estiveram em contato com ele no tempo em que esteve preso, incluindo até as criadas e soldados. Eles não devem saber por que estão sendo chamados.”